tag:blogger.com,1999:blog-64952450429537740862024-02-08T08:17:57.527-08:00Passeio LentoNatáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.comBlogger21125tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-7230838192861661692010-07-20T08:50:00.000-07:002010-07-20T12:18:10.219-07:00Velejando<a href="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TEXGSYoiozI/AAAAAAAAAPo/9lZy45f6eMU/s1600/871403.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5496016939427996466" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TEXGSYoiozI/AAAAAAAAAPo/9lZy45f6eMU/s320/871403.jpg" /></a><br /><div align="center"><em>" - Seja feliz. Quanto a mim, talvez eu compre um barco e me mude para a Florida.<br />- </em><em><span style="color:#009900;">Mas você não sabe velejar.<br /></span>- Não, eu não sei.<br />- <span style="color:#009900;">Então?</span><br />- Então, ao invés de felicidade me deseje sorte..."<br /></em><br /><strong><span style="font-size:130%;color:#000099;">'Um ponto é o fim, mas seus três pontos são a eternidade.'</span></strong></div>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-130247260022934092010-07-14T12:18:00.000-07:002010-07-14T12:20:47.007-07:00Presente<a href="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TD4N5mUMECI/AAAAAAAAAPg/_ZcyNWy1bao/s1600/caixa-de-presente.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 296px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5493843878627512354" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TD4N5mUMECI/AAAAAAAAAPg/_ZcyNWy1bao/s320/caixa-de-presente.jpg" /></a><br /><div align="center"><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:130%;color:#cc0000;"><strong><em>" Toda alegria é assim: já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino."</em></strong></span></div>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-89427806760075323922010-06-17T10:18:00.000-07:002010-06-17T14:23:59.587-07:00Citação<div align="center"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 232px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5483793604707493970" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TBpZOqYmKFI/AAAAAAAAAOQ/TzJL7FoDIJo/s320/clowncloseupnew12ui0.jpg" /> <strong><span style="font-family:georgia;"><span style="color:#000099;"><span style="font-size:130%;">...</span><br /></span></span><span style="font-family:georgia;font-size:130%;color:#000099;"><em>" Mas eu tinha que ficar contente. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar."</em></span></strong> </div><div align="center"><strong><span style="font-family:georgia;font-size:130%;color:#000099;">...</span></strong> </div><p align="center"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TBpbAY7QTKI/AAAAAAAAAOo/rnAoZSwvnpM/s1600/clown.jpg"></a></p><p align="center"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TBpbU1-NFvI/AAAAAAAAAOw/KHITpjhIZqY/s1600/clown.jpg"><img style="WIDTH: 320px; HEIGHT: 201px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5483795909920495346" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TBpbU1-NFvI/AAAAAAAAAOw/KHITpjhIZqY/s320/clown.jpg" /></a></p><p align="center"><br />( Caio Fernando Abreu )</p>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-58585085900304307342010-06-16T21:07:00.000-07:002010-06-16T21:33:46.937-07:00Tempo<a href="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TBmkJazRglI/AAAAAAAAANA/m-KcMkKCWfw/s1600/o_tempo.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 241px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5483594503020446290" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/TBmkJazRglI/AAAAAAAAANA/m-KcMkKCWfw/s320/o_tempo.jpg" /></a><br /><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;">Um dia você vai estar sozinho, vai fechar os olhos e tudo estará negro, os números de sua agenda passarão claramente na sua frente e você não terá nenhum para discar.<br />Sua boca vai tentar chamar alguém, mas não há alguém solidário o bastante para sair correndo e te dar um abraço, nem te colocar no colo ou acariciar seus cabelos até que o mundo pare de girar.<br />Nessa fração de segundos, quando teus pés se perderem do chão, você vai lembrar da minha ternura e do meu sorriso infantil.<br />Virão súbitas memórias gostosas dos meus abraços e beijos, da minha preocupação com você e só vão ter algumas músicas repetindo no seu rádio: as nossas.<br />Em um novo momento você vai sentir um aperto no peito, uma pausa na respiração e vai torcer bem forte para ter o nosso mundinho delicioso de novo.<br />O nome disso é <strong>saudade</strong>, aquilo que eu tinha tanto e te falava sempre.<br />E quando você finalmente discar meu número, ele estará ocupado demais, ou nem será mais o mesmo, ou até eu nem queira mais te atender.<br />E se você bater na minha porta ela estará muito trancada e se aberta estiver, mostrará uma casa vazia.<br />Teus olhos te ensinaram o que são <strong>lágrimas</strong>, aquelas que eu te disse que ardiam tanto.<br />O nome do enjôo que você vai sentir é <strong>arrependimento</strong>, e a falta de fome que virá chama-se <strong>tristeza</strong>.<br />Então quando os dias passarem e eu não te ligar, quando nada de bom te acontecer e ninguém te olhar com meus olhos encantados...você encontrará a famosa solidão. A partir daí o que acontecerá chama-se <strong>surpresa</strong> e provavelmente o remédio para todas essas sensações acima é o tal do <strong>tempo</strong> em que você tanto falava.</span></div><div align="justify"> </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="center">(Autoria desconhecida)</div>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-79341044115959675552010-05-20T19:34:00.000-07:002010-06-18T16:26:06.990-07:00Poesia<a href="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S_XxjUwSICI/AAAAAAAAAME/Y9bt9JSJvGM/s1600/barquinho_de_papel.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 309px; DISPLAY: block; HEIGHT: 280px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5473546511307644962" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S_XxjUwSICI/AAAAAAAAAME/Y9bt9JSJvGM/s320/barquinho_de_papel.jpg" /></a><br /><div align="center"><span style="font-family:verdana;"><em><strong><span style="color:#ff0000;">Canção </span></strong><br /><br />Pus o meu sonho num navio<br />e o navio em cima do mar;<br />- depois, abri o mar com as mãos,<br />para o meu sonho naufragar.<br /><br />Minhas mãos ainda estão molhadas<br />do azul das ondas entreabertas,<br />e a cor que escorre de meus dedos<br />colore as areias desertas.<br /><br />O vento vem vindo de longe,<br />a noite se curva de frio;<br />debaixo da água vai morrendo<br />meu sonho, dentro de um navio...<br /><br />Chorarei quanto for preciso,<br />para fazer com que o mar cresça,<br />e o meu navio chegue ao fundo<br />e o meu sonho desapareça.<br /><br />Depois, tudo estará perfeito;<br />praia lisa, águas ordenadas,<br />meus olhos secos como pedras<br />e as minhas duas mãos quebradas.<br /><br />Cecília Meireles</em></span> </div>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-72628564677804346112010-03-31T20:41:00.000-07:002010-06-17T11:13:46.411-07:00Deficiências<div align="center"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S7QX7D2aVmI/AAAAAAAAALg/6fV3iShuhIc/s1600/quintana.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 286px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5455011352065758818" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S7QX7D2aVmI/AAAAAAAAALg/6fV3iShuhIc/s320/quintana.jpg" /></a> Texto de Mário Quintana<br /><br /><span style="font-size:130%;"><strong>DEFICIÊNCIAS </strong><br /></span><div align="center"></div><br /><div align="center"><span style="font-size:130%;">"<span style="color:#ff0000;"><strong>Deficiente</strong></span>" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive.<br />"<span style="color:#ffff33;"><strong>Louco</strong></span>" é quem não procura ser feliz com o que possui.<br />"<span style="color:#3366ff;"><strong>Cego</strong></span>" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.<br />"<span style="color:#33cc00;"><strong>Surdo</strong></span>" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.<br />"<span style="color:#cc33cc;"><strong>Mudo</strong></span>" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.<br />"<span style="color:#ffcc33;"><strong>Paralítico</strong></span>" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.<br />"<span style="color:#339999;"><strong>Diabético</strong></span>" é quem não consegue ser doce.<br />"<span style="color:#33ffff;"><strong>Anão</strong></span>" é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:<br />"<span style="color:#33ff33;"><strong>Miseráveis</strong></span>" são todos que não conseguem falar com Deus.<br /><br /><em><strong>"A amizade é um amor que nunca morre".</strong> </em></span></div></div>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-972126615146082182010-03-25T15:20:00.000-07:002010-03-25T16:00:16.507-07:00Saudade<div align="justify"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S6vqaRr9NGI/AAAAAAAAALQ/ys-XwYUX5yA/s1600/malas.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 290px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452709511007384674" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S6vqaRr9NGI/AAAAAAAAALQ/ys-XwYUX5yA/s320/malas.jpg" /></a><br />Mãe quando está prestes a ver um filho sair de casa começa a ficar toda chorosa, um filho que vai estudar fora, um que se casa, outro que resolve morar no exterior, e assim por diante.<br />Tudo é motivo de saudade, o cheiro que ficou no quarto, o cd que ele esqueceu no carro, e até a saudade dos amigos dele que costumavam freqüentar a casa, deixam uma mãe atordoada.<br />Mãe é um negócio engraçado, chora quando o filho chega, chora quando o filho vai embora, chora quando o filho entra na faculdade, chora quando ele se forma...mães são mesmo um bando de manteigas derretidas.<br />Uma coisa que todas elas adoram é elogios, não elogios feitos a elas. É claro que desses, elas também gostam. Mas sentem-se imensamente felizes quando elogiam a sua cria, quando dizem o quão educado ele é, como é inteligente, bonito, simpático e atencioso...Ah o coração delas fica em estado de êxtase.<br />Nunca vou esquecer o dia em que a minha mãe me contou a história do par de chinelos. Ela tinha acabado de me deixar na rodoviária e quando chegou em casa viu que eu tinha esquecido os chinelos num canto da sala, aquilo a deixou tão angustiada, que correu para o quarto, deitou na cama e chorou por longos minutos. Conseqüentemente ao ouvir essa narração também me debulhei em prantos.<br />Todo filho reclama da mãe, dorme brigado com ela num dia e acorda pedindo uma omelete no outro. Mãe não é igual pai, que segue a perspectiva da mega sena acumulada, ou seja, você precisa de muita sorte para ganhar um bom pai. Não que o meu não o seja. Mas toda mulher depois que se torna mãe engrandece o espírito, fica mais bonita, mais segura de si, mais terna, mais forte, afinal de agora em diante ela fará tudo para proteger a criatura que mais amará ao longo de toda a sua vida.<br />Hoje estou sentindo uma saudade tão grande da minha mãe, saudade da torta de frango que só ela sabe fazer, saudade do cheiro de roupa limpa que ela deixa no guarda-roupa, saudade dos gritos estressantes dela com os cachorros, saudade das implicâncias dela quando eu pegava o carro emprestado, saudade de pedir benção antes de dormir, saudade de abraçar alguém que eu tenho certeza que me ama.<br /><em>“Saudade! Saudade! Hoje eu posso dizer o que é dor de verdade!”</em></div>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-15228901230453993372010-03-25T14:16:00.000-07:002010-03-25T14:27:17.024-07:00Citação<a href="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S6vVFLkLTiI/AAAAAAAAAKo/Pk7h1baqLJI/s1600/Vinhos.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 310px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5452686058842705442" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S6vVFLkLTiI/AAAAAAAAAKo/Pk7h1baqLJI/s320/Vinhos.jpg" /></a><br /><div><br /><span style="font-family:lucida grande;">"É preciso estar bêbado! É só isso que importa! Para não sentir o horrível fardo do tempo que despedaça nossos ombros e nos empurra para o chão. É necessário que nos embriaguemos sem trégua! Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quisermos. Mas embriaguemo-nos!"<br /><br /><em>Toulouse-Lautrec</em></span></div>Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-86897469822505804512010-03-12T20:26:00.000-08:002010-03-12T20:29:45.964-08:00Os cheiros<a href="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S5sUnR3IYaI/AAAAAAAAAJ4/4slEHvag11I/s1600-h/cheiro2-1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 292px; height: 320px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S5sUnR3IYaI/AAAAAAAAAJ4/4slEHvag11I/s320/cheiro2-1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5447970839276839330" /></a><br />Existem cheiros inesquecíveis. Cada pessoa tem seus prediletos. E basta uma mínima lembrança para que tudo volte: a temperatura do momento, a felicidade ou a tristeza que se sentia, as imagens de quem estava perto, tudo. Tudo. Cheiros podem ser alegres ou tristes. Era muito bom quando se entrava em casa depois do colégio, logo antes do almoço, e se sentia o cheiro do refogado – alho, cebola e tomate – para fazer o picadinho ou o bife de panela enrolado no bacon e preso por um palitinho. Quantos segundos você leva para atravessar o tempo e voltar aos seus 11 anos?<br /><br />Lembra quando há muitos, muitos anos, você ia passar as férias na fazenda? Ah, uma fazenda tem aromas absolutamente inesquecíveis: o do capim, o da terra depois da chuva, o do estábulo onde se ia de manhã bem cedo tomar o leite tirado da vaca, ainda morno, numa canequinha de alumínio. E o cheiro da tangerina? Aliás, tangerina não, mexerica; aquela pobrinha, modesta, de casca fina, que deixava a mão cheirando durante três dias. Esse é um cheiro muito alegre. O cheiro do bolo saindo do forno é para sempre – bolo de tabuleiro, cortado em losangos, com cobertura de açúcar com limão, e um detalhe precioso: naquele tempo, por mais que se comesse não se engordava, e em cima da mesa havia sempre um vidro de fortificante para abrir o apetite. Que felicidade ter tido uma infância no interior! Mas existem outros aromas não ligados ao paladar e também inesquecíveis. O cheiro do mar quando se chega em Salvador – uma licença poética, com licença. E você já teve uma tia-avó que morava numa casa bem arrumada, cujo assoalho era encerado toda semana? O brilho era dado a mão, com uma escova de cabo alto como uma vassoura, e era chegar e ouvir: “Cuidado para não escorregar”. Que cheiro limpo, honesto, que cheiro de gente direita. Será que isso ainda existe?<br /><br />Mas há também os cheiros angustiantes: os de hospital, de sala de cirurgia. Muito cheiro de flor você sabe o que lembra – melhor não falar disso. E existem os perfumes ricos: de carro novo, de um bom fumo de cachimbo. E vamos combinar: cheiro de alho é bom na cozinha, de sexo no quarto, e é proibido misturar. Por falar nisso, o cheiro do homem que se ama, depois do amor, é melhor nem lembrar para não desmaiar de saudade.<br /><br />As cidades também têm seu cheiro, cada uma muito particular: se você for levada, de olhos vendados, para o Bloomingdale’s, sabe na hora que está em Nova York. E se respirar um aroma de cominho misturado a curry e a canela vai saber que está no souk de Marrakesh.<br /><br />Mas existe um cheiro que só as mulheres conhecem. É o que elas sentem quando estão enxugando seus bebês depois do banho. É preciso que não haja uma só pessoa por perto num raio de 200 metros para não haver interferência de qualquer ordem. Sem nenhuma presença estranha – nem mesmo a do pai –, mãe e filho poderão dizer bobagens e rir de coisas que só eles vão entender. Depois do talco, a mãe vai botar o nariz no pescoço de sua cria e cheirar com todos os seus cinco sentidos. No princípio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arrebentar os pulmões de tanto amor. Na hora a gente não sabe, mas um dia vai saber: não existe nada igual a esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse é o cheiro da vida.<br /><br />Danuza Leão é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras)Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-22727726309334033822010-02-15T14:46:00.001-08:002010-02-15T14:55:42.329-08:00Perceba<a href="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S3nO5Kfi4XI/AAAAAAAAAJA/lLyWOtxxBqc/s1600-h/dente-de-leao-1280x960.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S3nO5Kfi4XI/AAAAAAAAAJA/lLyWOtxxBqc/s320/dente-de-leao-1280x960.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5438605506491113842" /></a><br />Hoje eu só queria que você percebesse...<br /><br />Que os mais presos são aqueles que se dizem livres.<br />Que os mais fechados geralmente já sofreram.<br />Que a sensatez é perdida ao se apaixonar.<br />Que inteligente é quem ignora as mensagens do miocárdio.<br />Que felicidade não exige sorriso vinte e quatro horas por dia.<br />Que a vida é dura e destrói a sua beleza externa.<br />Que bondade não é sinal de burrice.<br />Que chorar é bom e lubrifica as retinas.<br />Que nem só os dias são nublados, mas também as pessoas.<br />Que sua casa nem sempre é o melhor lugar do mundo.<br />Que criatividade não é sair por ai se auto-denegrindo.<br />Que Deus te protege dos inimigos e te alerta sobre os amigos. <br />Que é melhor estar sozinho do que ficar sozinho.<br />Que quase nada tem um fim com o consentimento de ambas as partes.<br />Que ignorar é a pior atitude humana. <br />Que sonhar, imaginar, é bom, só não idealize demais para não se decepcionar. <br />Que além de você muitas outras pessoas estão tendo um dia vazio.<br />Que não se provoca sentimento em alguém se não puder garantir volta.<br />Que vão te quebrar em pedacinhos, vão retalhar seu coração, zombar da sua cara...<br />e mesmo assim você ainda terá certas coisas bem limpinhas dentro de si.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-45925475751405015852010-01-27T05:27:00.001-08:002010-01-27T05:42:19.334-08:00Céu<a href="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S2A_Wj8mLjI/AAAAAAAAAI4/m1YPwq47cL8/s1600-h/ceu1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 226px; height: 320px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S2A_Wj8mLjI/AAAAAAAAAI4/m1YPwq47cL8/s320/ceu1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5431410807447891506" /></a><br />Enquanto ele estava deitado na cama, começou a sentir uma saudade enorme de quando a mãe o benzia, o cobria, apagava a luz do quarto e saia dizendo:<br />- Dorme com os anjinhos, meu amor!<br />“Meu amor”, as pessoas deveriam fazer um contrato concordando com todos os termos nele pré-estabelecidos antes de saírem por ai dizendo essas palavras. Salvo as boas mães. <br />Lembrou também que podia acordar sem preocupar-se com nada nem ninguém. Podia ser sincero ao responder a famosa pergunta:<br />- O que é que você tem?<br />Ah, como ficava feliz em poder dizer que era só uma dor de barriga, um corte na perna, que estava triste porque viu um passarinho morto. Sim, ele podia dizer o que tinha. Criança não esconde nada que lhe doa, mesmo quando é um assunto do coração. <br />Hoje em dia ao ouvir a mesma pergunta ele diz que não tem nada, e que não demora passar. Mas qualquer um sabe que quem diz não ter nada, tem mesmo é um pouco de tudo. <br />Foi crescendo e descobrindo que muita gente iria levantar a voz para ele, que iriam brigar sem mostrar motivos lógicos para isso, e que a única coisa que poderia fazer seria contabilizar no final do dia os sapos que engoliu. <br />Sentiu sua própria falta. Falta da capacidade que tinha de achar graça nele mesmo. Como quando você tropeça na rua e um quarteirão depois já é capaz de rir de sua trapalhada. Sentiu vontade de largar certos vícios que foi adquirindo ao longo dos anos para tentar esquecer coisas e pessoas. Sentiu remorso por ter brigado com o melhor amigo, por não ter retornado algumas ligações, por ter recusado convites de pessoas adoráveis, e tudo isso para que? Para correr atrás de um não sei o quê, um não sei quem.<br />Constatou que antes não tinha problemas para dormir, para comer, para conversar e nem para chorar em público. Agora, sofria de insônia, pulava refeições, limitava-se a responder somente o necessário, e chorava sozinho escondido no banheiro, graças a um comentário ridículo que ouviu certa vez, de que quem chora na frente dos outros é fraco.<br />Perdeu a inocência que trazia consigo, quis mandar em tudo, em todos. Tornou-se prepotente diante de determinadas situações. Fechou-se num casulo que construiu em volta de si, aderindo ao lema do: cortar antes que cresça. <br />O lado bom disso tudo foi que ele ganhou experiência. Entendeu por exemplo que nem sempre o cheio é melhor que o vazio, que sua família não era a pior do mundo, que carteira de motorista não simboliza carta de alforria, afinal você pode fugir, mas e quando o combustível acabar? E por mais idiota que ele fosse, Deus haveria de lhe dar uma nova chance para se encantar com a vida. <br />Tudo isso que o incomodava tanto hoje, amanhã não passará de um ontem não resolvido. Aos poucos a sensação de que nada andava acontecendo ia se dissolvendo no escuro. <br />E no silêncio que abafava o quarto, pediu para que o dia nascesse logo. Essa seria sua oportunidade de alcançar e buscar o céu para alguém.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-28588949527647259102010-01-20T12:09:00.000-08:002010-01-20T13:00:45.414-08:00Livre<a href="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S1dkEHvwsxI/AAAAAAAAAIo/bMcK8D8rFJQ/s1600-h/Adeus.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 206px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S1dkEHvwsxI/AAAAAAAAAIo/bMcK8D8rFJQ/s320/Adeus.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5428917897780048658" /></a><br /><br />Normal seria se uma carta começasse com um cumprimento, mas uma começando com “Adeus”? E de tão anormal que achou, sentou-se rapidamente para poder ler. Não tinha cabeçalho, estava amassada, molhada da chuva, meio borrada. Tinha conteúdo triste, pôde perceber rapidamente.<br /><br />(...)<br /><br />Adeus,<br /><br />Não se surpreenda quando eu não estiver mais aqui amanhã, nem sei como consegui ficar até hoje. Cheguei ao ponto de não saber se você anda me fazendo bem ou mal. <br />Juro do fundo do meu coração que preferia nunca ter lhe conhecido, que ninguém tivesse nos apresentado. Eu estava bem antes, e agora sinto uma dor tão forte na boca do meu estômago, uma dor tão grande que preciso vomitar toda a minha raiva em você. Caso não saiba, raiva não é o contrário de amor, o contrário é a indiferença, isso que você pratica dia após dia. <br />Cansei de estar sempre disponível para ouvir, cansei de mostrar o lado bom, embrulhando com fitas tudo de bonito que queria compartilhar, cansei de ser carinhoso, cansei de esperar notícias suas. E o pior de tudo, cansei até de mim. Se você gosta de todos os pingos nos is, vou mais além, gosto de pingos nos jotas também. Impossível passar por cima de tudo. <br />Eu sabia me expressar, achava que era suficientemente brilhante para iluminar o meu próprio caminho, mas não consigo emitir um mísero feixe de luz agora. <br />Queria trocar tudo isso por alguma outra coisa ou algum lugar que valesse mais a pena. Você é uma alma solitária, não tem noção nenhuma do seu destino, e ainda tem coragem de dizer que quer mudá-lo. Tento convencer-me freneticamente a cada dia de que a única coisa que preciso para sobreviver é o ar que respiro. <br />Não vou arriscar novamente, você tem o dom de me fazer sentir culpa. Olho o relógio, queria poder reiniciá-lo, mas não dá. Deixei você brincar demais comigo. <br />O dia está amanhecendo e já consigo me sentir menos tolo. Antes de terminar quero agradecer. Graças a você descobri que a minha maior qualidade também é o meu maior defeito, e a partir de hoje deixo de me importar.<br />Vou lhe deixar em paz, tão em paz que realmente quero que sinta saudades do anel que tinha entre seus dedos, por mais que o julgasse uma mera bijuteria. <br /> <br /> <br />Seja Feliz!<br /><br />(...)<br /><br />Debruçou-se sobre a mesa, chorou até soluçar, sentiu a mão muito leve. Talvez nem pudesse controlá-la mais...Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-1381411861716793572010-01-15T07:03:00.000-08:002010-06-18T13:22:34.819-07:00Gafes<a href="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S1CHtI8xUZI/AAAAAAAAAIE/mPNTF6QLL_k/s1600-h/rios.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 281px; DISPLAY: block; HEIGHT: 281px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5426986760547684754" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S1CHtI8xUZI/AAAAAAAAAIE/mPNTF6QLL_k/s320/rios.jpg" /></a><br />Viajou para a praia junto com outras três amigas. Passearam, beberam, fizeram novas amizades, conheceram muitos rapazes. Dentre eles guardou o nome e telefone de um em especial, pois ele morava na mesma cidade em que ela acabara de se mudar e ainda não conhecia praticamente nada. A viajem chegou ao fim, cada amiga seguiu o seu rumo.<br />Estava em casa num final de semana quando comentou com a irmã sobre o tal moço da praia.<br />- O nome dele é Lúcio. Muito educado, simpático, inteligente, não é lindo, lindo, mas todo esse conjunto de qualidades o deixa muito bonito.<br />- Então por quê não liga para ele como quem não quer nada? Se ele é tão gente boa assim, será uma ótima pessoa para te apresentar a cidade e te distrair um pouco.<br />- Você tem razão. Vou ligar agora mesmo.<br />Procurou o número do rapaz na agenda e ligou.<br />- Pronto?<br />- Olá! Gostaria de falar com o Lúcio.<br />- É ele quem está falando.<br />- Lúcio, desculpa! Não reconheci a sua voz. É a Fabiana, da praia, lembra?<br />- Nossa! Claro que lembro. Achei que nem tinha meu telefone mais. Tudo bem contigo?<br />- Tenho sim. Está tudo bem, ou melhor, mais ou menos. Lembra que te falei que mudei pra cá há pouco tempo e ainda não conheço nada nem ninguém?<br />- Lembro sim. Então vou te convidar para dar uma volta comigo, vamos sair para jantar e pelo caminho te mostro os principais pontos da cidade. Pode ser?<br />- Seria ótimo!<br />Ficou imensamente feliz por ele mesmo ter se oferecido para sair, estava com medo de que já tivesse compromisso ou não fosse tão simpático quanto havia sido quando se conheceram. Combinaram o horário, explicou o endereço para o rapaz que se dispôs a buscá-la em casa como um verdadeiro cavalheiro.<br />Durante o caminho para o restaurante foi mostrando praças, monumentos, shoppings, boates, bares, supermercados, condomínios, farmácias, hospitais, e tudo mais que julgava necessário uma pessoa saber onde fica para sobreviver numa cidade grande.<br />Chegaram a um restaurante chique que pelo o que ela pôde perceber era um dos pontos mais badalados da região. Desceram do carro e um manobrista pegou a chave para estacioná-lo. Restaurante chique, manobrista, começou a pensar “Meu Deus do céu, onde é que eu vim parar? Se aqui fora é assim imagina lá dentro!”.<br />Havia acabado de se mudar de uma cidade pequena, tinha um gosto um tanto quanto interiorano. Estava vestida de forma simples. Arrumadinha, porém simples. Usava uma bata, calça jeans, botas e uma bolsa de couro cheia de franjas. Quem olhava percebia logo de cara um estilo meio hippie. Já ele estava usando uma calça social, uma camisa, um blazer e sapatos também socais. Formavam um casal contrastante.<br />No restaurante um pianista tocava enquanto as pessoas apreciavam a comida feita pelo chefe de cozinha francês. Os freqüentadores muito bem trajados, mulheres em sua maioria com seus belos vestidos longos e homens engravatados.<br />Chamou atenção além do traje, o barulho que as botas fizeram no assoalho de madeira do restaurante. Um barulho abafado, do tipo toc, toc, toc, que atrapalhou por alguns segundos a doçura das notas musicais do piano.<br />O garçom se aproximou da mesa e perguntou:<br />- Posso trazer a carta de vinhos, senhor?<br />- Pode sim, obrigado!<br />Perguntou a ela:<br />- Prefere vinho tinto seco ou suave?<br />Tinto seco ou suave? Preferia que ele mesmo escolhesse para evitar gafes.<br />- Escolha você. Confio no seu gosto.<br />Escolheu um vinho tinto suave, apesar de preferir o tinto seco. Leu em uma revista que mesmo o vinho suave sendo o restolho do suco que a uva pode oferecer, era acrescido de açúcar, tornando-se palatável para a maioria das mulheres.<br />- E de entrada, os senhores gostariam de quê?<br />- Traga uma tábua de frios por enquanto.<br />Ficou aliviada por ele não ter pedido sua opinião para escolher a comida, aquele não era o tipo de lugar em que se grita “Garçom, meu amigão, traz um P.F ai!”.<br />Conversaram enquanto a entrada não chegava, ela falou de seus planos, ele falou que estava começando a cuidar dos negócios do pai, enfim falaram da vida. Foi quando ela avistou o garçom com um carrinho para servi-los. A tábua de frios, o vinho, tudo sendo empurrado naquele carrinho que só tinha visto em filmes.<br />Peito de chester defumado fatiado, lombinho canadense, salame, queijo prato fino, azeitonas pretas, verdes, dentre outras coisas que nenhum dos dois conseguiu identificar.<br />Queria comer uma azeitona, mas não sabia o que fazer com o caroço, até que ele comeu uma e discretamente tirou o caroço da boca com a mão colocando-o no guardanapo. Percebeu que não era tão complicado como havia imaginado e continuou observando-o atentamente. Acalmou-se. Pediram o prato principal, pediram a sobremesa, pediram a conta e ele pagou. Antes de ir embora foram ao banheiro.<br />Ela entrou no banheiro, fechou a portinha e quando foi sair não conseguia abri-la. Começou a ficar apavorada, com certeza ele já tinha saído do banheiro e estava a esperando para irem embora. Subiu no vaso sanitário, olhou de um lado, olhou do outro, nenhuma alma viva para socorrê-la. Pensou em gritar, mas logo desistiu da idéia, seria muita vergonha para Lúcio passar. Tomou coragem e se jogou estatelando-se no chão do banheiro. Levantou rapidamente, deu uma breve ajeitada no cabelo e saiu como se nada tivesse acontecido.<br />- Tudo bem?<br />- Tudo ótimo! Vamos?<br />- Vamos! É que você demorou pensei que talvez pudesse estar passando mal, sei lá.<br />- Não, não. Tive um probleminha com o trinco da porta, nada demais.<br />Levou-a para casa. Ela agradeceu o jantar e ele disse:<br />- Espero que possamos repetir a noite.<br />- Claro! Vamos combinar de sair mais vezes.<br />- Ótimo! Agora que já conhece um pouco melhor a cidade você escolherá o lugar na próxima vez.<br />Deu uma risada e disse:<br />- Combinadíssimo!<br />Sentiu um imenso alívio pensando “Da próxima vez vamos comer um X-burguer!”.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-55720348520654479382010-01-13T11:03:00.000-08:002010-01-14T06:05:59.984-08:00Felipe: o peixe e o engenheiro<a href="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S04ZPrm6waI/AAAAAAAAAH8/7h9SyMfGY-0/s1600-h/goldfish_1212487c.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 200px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S04ZPrm6waI/AAAAAAAAAH8/7h9SyMfGY-0/s320/goldfish_1212487c.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5426302358222717346" /></a><br />Colocou o fone de ouvido, não queria ouvir ninguém. Tanta gente reclamando, falando de seus casamentos fracassados, de seus empregos chatos, de seus parentes em estado terminal, de suas vidas problemáticas. Ficou na sala, com o fone no volume máximo, andando de um lado para o outro. <br />Olhou pela janela do apartamento da tia, enquanto os demais continuavam interagindo em mais uma típica reunião de família, daquelas que só acabam quando algum podre vem à tona, como por exemplo: alguém que dá em cima de quem não deveria, alguém que descobre uma traição, alguém que bebe demais e resolve sair do armário, entre outros fatos.<br />Ligou a televisão e nenhum canal oferecia algo digno de sua atenção. Foi ao quarto da prima que estava deitada na cama falando com o Pedro, ou seria o Lucas, Leonardo...quem saberia dizer? Ela trocava de namorado com muita freqüência, era mais fácil gravar os nomes dos jogadores da seleção japonesa do que o dos namorados.<br />Do quarto da prima, foi para a cozinha, fez um lanche que o manteve ocupado por cerca de uns vinte minutos. O tempo parecia não passar.<br />Procurou na biblioteca da tia algo para ler e que o mantivesse ocupado, porém só viu livros do curso de Direito que ela havia feito há uns mil anos.<br />Avisou que desceria para a sala de jogos do prédio.<br />Uma mesa de sinuca sem ninguém jogando e umas mesas para jogar baralho. Sempre odiou baralho, perdia todas as partidas. <br />Foi até a piscina, só viu crianças. Não adiantaria tentar puxar assunto com uma delas, no máximo lhe jogariam água e completariam dizendo que haviam urinado nela. Mas percebeu que uma delas não estava brincando com as outras, estava sentada num montinho de areia sozinha.<br />Foi se aproximando lentamente. Crianças são como animais, elas se espantam facilmente, só que diferente deles, elas iniciam um berreiro e uma mãe furiosa vem saber o que você fez com o pimpolho dela.<br /> - Por quê não brinca com as outras crianças?<br />- Pelo mesmo motivo que você não está na sua chata reunião de família. <br />Ficou espantado com a resposta. Como uma criança poderia rebater uma pergunta com tamanha maestria? <br />- Como sabe que estou fugindo de uma reunião chata?<br />- O apartamento dos meus pais é em frente ao da sua tia, dá para ouvir tudo.<br />- Como sabe que ela é minha tia?<br />- Bem, ela vive andando aqui pelo prédio dizendo que o jovem sobrinho engenheiro dela poderia dar um jeito na obra mal concluída do salão de festas. Você veio no carro de uma empresa de construção civil, então conclui que você é o sobrinho dela.<br />- Meu Deus, você é muito inteligente! Engenheiro, construção civil...liga os fatos muito bem, espertíssima para sua idade. <br />Ela deu de ombros como que não ligando para o elogio.<br />- São seis anos bem aproveitados, só isso.<br />- Realmente. Com seis anos a coisa mais fantástica que conseguia fazer era subir numa árvore, cair e quebrar o braço.<br />Ela deu uma risadinha. <br />- Já sabe o que quer ser quando crescer?<br />- Todo adulto tem mania de perguntar isso né?! Por enquanto eu digo que não sei. O bobão do meu irmão foi dizer que queria ser médico e agora meu pai quer que ele realmente seja. <br />- Está certa, vai ter muito tempo para pensar nisso. E animais de estimação você tem algum?<br />- Tive um peixe. Minha mãe não gosta de cães porque latem, de gatos porque miam, de pássaros porque cantam, ai me deu um peixe. Eles só nadam.<br />O rapaz deu uma risada. <br />- Você já vai à escola?<br />- Vou sim. Mas não gosto muito, nessa idade subestimam a capacidade infantil. Nós só ficamos pintando desenhos para treinar a coordenação motora e depois já é hora da soneca. <br />Não se conteve e teve de rir mais uma vez, estava encantado com a inteligência da menininha. Com certeza ela era a melhor pessoa para mantê-lo ocupado naquele lugar. <br />- Você tem cara de quem não gosta de crianças.<br />- Não é que eu não goste, elas é que parecem não se entender comigo. Quase sempre me deixam com hematomas.<br />- Entendo.<br />Percebeu que ela colocava a areia no baldinho para tentar construir um castelo. <br />- Quer ajuda com o castelo de areia?<br />- Você é engenheiro de castelinho de areia também?<br />- Vamos descobrir agora.<br />Dobrou as mangas da camisa, e entrou no cercadinho. Completou o balde com areia, molhou-a para que adquirisse firmeza e o virou com a boca para baixo.<br />- Acha que vai ficar bonito mesmo antes de ver?<br />- Acho que sim. Você parece ser confiável. <br />- Então vamos lá.<br />Ergueu o balde e o castelo saiu inteirinho. Era dos castelos de areia o mais simples possível. Pegou um galho de árvore pequeno, rasgou um pedaço do lenço vermelho que estava no bolso de trás da calça, amarrou no galho. Agora o castelo tinha uma bandeira.<br />- Ficou muito bonito. É uma pena que ele não vai resistir para sempre.<br />- Não tem problema. Guarde apenas na memória. Sem falar que podemos fazer outros ainda melhores. <br />Ela fez que sim com a cabeça. Os dois ouviram um grito:<br />- Carolina, venha se arrumar! Nós vamos passear. <br />- Estou indo!<br />- Então você se chama Carolina? Bonito nome.<br />- Obrigada! E o seu como é?<br />- É Felipe.<br />- Que legal! Não vou esquecer nunca mais.<br />- Por quê?<br />- O meu peixe se chamava Felipe.<br />E o tempo voltou a passar lentamente para Felipe, o peixe engenheiro.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-51268211258731146792010-01-13T07:56:00.000-08:002010-01-13T08:52:42.604-08:00Telefonema<a href="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S03xbC6IAKI/AAAAAAAAAH0/uX2ymbh036I/s1600-h/ao+telefone.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 265px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/S03xbC6IAKI/AAAAAAAAAH0/uX2ymbh036I/s320/ao+telefone.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5426258572990742690" /></a><br />Trancou-se em casa, no quarto, em si mesmo. Tornou-se tão calado que às vezes lia alguma coisa em voz alta para certificar-se de não tê-la perdido. Durante uma madrugada, resolveu testar a voz ligando para o primeiro número que lhe viesse à cabeça. Discou e durante o intervalo entre um toque e outro, arrependia-se.<br />Uma voz de mulher atendeu.<br />- Alô?<br />Quis desligar devido à vergonha. Quis, mas não o fez e foi logo dizendo:<br />- Você não me conhece, liguei para o primeiro número no qual pensei. Foi burrice minha. Desculpe!<br />- Tudo bem, está desculpado. Mas agora que me acordou fale o que quiser. Quero saber o que te fez perder o sono e pensar justamente na combinação de números do meu telefone. Quem sabe isso não é um sinal?<br />- Só se for um sinal de que você não teve muita sorte com a combinação fornecida por sua operadora. Ou ainda, de que sou uma negação da existência humana e gosto de incomodar desconhecidos. <br />- Então, negação da existência humana, sou o seu provável anjo da guarda está noite. Escolha uma das opções: continuar na linha e conversar com o anjo, ou desligar e voltar para o menu da sua vida solitária.<br />Calou-se, esperava qualquer tipo de reação de alguém que atendesse a um telefonema naquele horário, menos uma bem humorada. <br />- Você parece ser engraçada.<br />- Tento ser. Enquanto a maioria opta por ver só o lado ruim, tento ser diferente procurando meio as cegas um provável lado bom.<br />- Também já fui diferente, mas com o tempo você se transforma, vai sendo moldado e acaba ficando como a maioria. O mundo é uma fábrica com produção em massa e artefatos em série.<br />- Decepcionou-se, negação da existência humana?<br />Ele esboçou um sorriso tímido, porém perceptível. <br />- Comecei a entender como as coisas funcionam.<br />- Quer compartilhar para que eu também entenda?<br />- Acho que não é uma boa idéia. Não quero fazer mal a você. <br />- Não irá fazer. Não te dei poder para isso. <br />Espantou-se com a personalidade com a qual havia se deparado.<br />- Ótimo! Assim me tranqüilizo por prejudicar só a mim mesmo com essa teoria. <br />- Vamos a ela então.<br />- Quer saber se uma relação é falsa, anjo da guarda? Dê um tempo!<br />- Dar um tempo? <br />- Exatamente. Dê um tempo! Não ligue, não procure, controle seus impulsos de visitas surpresas, viaje...suma! <br />- Certo. Sumi! E agora o que acontece?<br />- Nada!<br />- Como assim nada? Fiquei confusa agora.<br />- Não acontece nada. Não te ligam, não te procuram, não te visitam, não viajam atrás de você...somem!<br />Ela começou a entender.<br />- Quer dizer que está incomodado com o quanto as pessoas podem ser frias, falsas, egoístas, mesquinhas, e imbecis?<br />- Estou incomodado por ter descoberto o quão descartável sou.<br />- Por quê não trocamos o seu descartável por reciclável?<br />- Você é ecologicamente correta? Trabalha em alguma ONG que recicle seres humanos?<br />Não resistiu e continuou a brincadeira.<br />- Sou ecológica e emocionalmente correta. Já ajudei a dar banho em aves afetadas por derramamento de petróleo. Não sei se você sabe, mas elas não conseguem voar com as asas impregnadas de óleo. <br />Do outro lado da linha ele soltou uma gargalhada, há tempos não dava uma. <br />- Acho que reciclei a sua noite pelo menos.<br />- Pode ter certeza que sim. Quando disquei o seu número, disquei por discar, não o anotei. Pensei que provavelmente ouviria um palavrão. <br />- O seu ficou gravado no meu identificador de chamadas. <br />Sorriu, finalizou a conversa, despediu-se. <br />Sabia que logo, logo, alguém ligaria, procuraria, faria uma visita surpresa, viajaria atrás dele e que nunca, nunca sumiria. Alguém diferente, assim como ela mesma se definiu: emocionalmente correta.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-3033699789989809922009-12-31T12:56:00.000-08:002009-12-31T13:21:25.806-08:00Tarde no parque<a href="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/Sz0QWN9iJnI/AAAAAAAAAHs/Y317BnoM1Jo/s1600-h/7231parque.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/Sz0QWN9iJnI/AAAAAAAAAHs/Y317BnoM1Jo/s320/7231parque.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421507500314863218" /></a><br />Era o último dia do melhor amigo na cidade. Resolveu pegar o carro, passar em sua casa sem avisar e levá-lo para dar uma volta. No fundo queria mesmo era conversar, lamuriar sua partida com ele mesmo.<br />- Odeio esses CDs bregas que você deixa no carro.<br />- Brega? Só porque a música tem uma letra bonita, uma melodia bem composta, e acaba te deixando reflexivo, você diz que é brega?<br />Estava feliz por ela estar dirigindo, assim não podia fitá-lo diretamente nos olhos.<br />- Exato. Não gosto porque me deixa reflexivo. Você podia colocar um CD em russo, japonês, aramaico, qualquer língua que eu não entenda, evitando que eu perca o sono mais tarde.<br />Ela começou a dar risada.<br />- Tá rindo de quê?<br />- De você oras. Você vai embora amanhã, não vai para sempre porque isso é muito tempo, além de ser incalculável, e fica ai todo mal humorado ao invés de conversar comigo, me contar seus novos planos, suas metas futuras, essas besteiras todas.<br />- Não ando fazendo muitos planos. Quem faz planos espera que o futuro os realize, eu prefiro saber onde estou pisando.<br />- Ok! Não está mais aqui quem falou.<br />Chegaram ao parque. Era o parque mais bonito da cidade, o único em que o canto de um pássaro superava os decibéis do trânsito caótico da cidade.<br />- Pense pelo lado bom, lá você não vai enfrentar congestionamentos e nem intoxicar o seu pulmão logo pela manhã.<br />- É...talvez lá eu nem precise de carro, uma bicicleta e já está tudo ótimo, manterei a forma sem gastar com as caras academias do interior. <br />Pararam em frente ao lago do parque. Ele comprou água de coco para os dois.<br />- Sabe o que água de coco me lembra?<br />- Praia?<br />- É! Como sabia?<br />- Não sabia. Foi a associação mais lógica que me veio a cabeça.<br />- Se soubesse que era bom com adivinhações não teria consultado aquela cartomante ridícula durante aquela nossa viagem.<br />Ele se lembrou da cartomante, uma velha gorda, com um lenço vermelho na cabeça, o braço coberto de pulseiras, os dentes amarelos, e quase se engasgou de tanto rir, dizendo:<br />- Lembra quando ela falou que você iria ser mãe de uma menininha e você reclamou dizendo que preferia um menino? Prontamente ela juntou as cartas do tarô e falou: melhor abrir o baralho de novo, vai ser menino, vai ser menino!<br />- Como lembro. Nem menino e nem menina. Olha eu aqui mantendo o corpinho de solteira. Se bem que eu vou ser uma mãe sexy.<br />Os dois eram amigos de longa data, se conheceram durante o ensino médio, passaram na mesma faculdade para cursos diferentes, mas durante os intervalos das aulas não socializavam muito com os colegas de turma, preferiam ficar juntos. Ele freqüentava as festas na casa dela. Ela adorava a família dele, eram todos calorosos e receptivos. O fato é, que eles sabiam tudo um do outro, era uma relação clara, mais que clara, transparente. <br />Cansou de receber telefonemas da mãe dela dizendo que a filha tinha terminado o namoro, estava sentada na escada de entrada da casa, com um vestido de festa e os olhos borrados de rímel parecendo um panda de tanto chorar. Já ela perdeu as contas de quantas vezes teve de ir ao apartamento dele para fazer uma limpeza na geladeira, onde podia-se encontrar tudo, menos algo comestível, também tirava a roupa da máquina de lavar, ele nunca se lembrava disso, só quando se deparava com o guarda-roupa vazio.<br />- Vou sentir muito a sua falta.<br />- Vai mesmo. Quem em sã consciência vai ter coragem de sair juntando a sua bagunça sem ser muito bem paga?<br />- A maioria das pessoas que conheço são capazes de enxergar os meus momentos de sofrimento, mas você é a única que além deles vê também os meus êxitos. <br />Ela ficou meio sem graça, não estava acostumada a receber elogios tão puros.<br />- Fui te buscar para dar uma volta, refrescar as idéias, mas essa conversa está com um tom muito fúnebre, muito despedida. <br />- Está certíssima. Chega de ficar falando do que aconteceu.<br />- Isso! Vamos falar do que provavelmente vai acontecer por lá. Vê se lembra do que eu sempre falo: todos são maravilhosos até o momento em que ainda não os conhecemos bem.<br />Voltou a rir. Ela arrancava um sorriso dele sem fazer muito esforço. Calmamente foram tomando o rumo do estacionamento.<br />- Essa sua versão é boa, mas eu já conheci gente que foi ficando cada vez mais maravilhosa com a convivência. <br />- Ah é?! Apresente-me esse ser estupendo algum dia. <br />- Não seja por isso. Olha o seu reflexo ali no vidro do carro.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-23046156716476030952009-12-31T06:44:00.000-08:002009-12-31T07:48:50.214-08:00Fatia<a href="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/Szy5AU5f_1I/AAAAAAAAAHk/5LzNtsWqp9w/s1600-h/untitled.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 222px; height: 281px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/Szy5AU5f_1I/AAAAAAAAAHk/5LzNtsWqp9w/s320/untitled.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421411466708254546" /></a><br /><br />Saiu de casa para trabalhar, chegou ao escritório, cumprimentou quem sempre costumava cumprimentá-lo e pensou em voz alta:<br />- Hoje o dia vai demorar para acabar.<br />Andava meio abatido. A esposa estava doente, algum tipo de câncer, comentavam os colegas de repartição, e o filho adolescente estava atravessando a enésima crise dessa típica idade.<br />Trabalhava no décimo andar, sua mesa ficava ao lado da janela. Agradecia muito a posição favorável, pois enquanto no escritório as pessoas se repetiam nas mesmas situações, na rua eram as situações que se repetiam com diferentes pessoas. <br />Na hora do almoço comia sossegado. Seu dentista lhe disse:<br />- Não sei quantas mastigadas de um lado, não sei quantas mastigadas do outro.<br />Claro que o dentista usou um número mais preciso.<br />A tarde para ele era a pior parte do dia. O sol invadia a repartição. Justamente o símbolo da felicidade, o astro-rei que tempos atrás lhe dissolvia o cansaço, agora o fazia pensar:<br />- Maldito calor! Toda essa exposição ao sol ainda irá me reservar surpresas futuras como um melanoma.<br />Sob a mesa, ao lado do computador havia uma foto antiga da família toda. Gostava muito de fotografias, sempre dizia:<br />- Fotos são lembranças que podem ser tocadas, são úteis quando nossa memória já não retém mais informações. <br />Levantou-se, foi tomar um café. Gostava do café forte, daqueles bem amargos. Se a vida é amarga que comecemos logo pelo café.<br />O expediente acabou. Dois ou três colegas o convidaram para tomar uma cerveja num bar vagabundo, onde só se pode consumir aquilo que já vem lacrado de fábrica. Obviamente recusou o convite, alegando que precisava chegar cedo em casa.<br />Desceu do metrô, caminhava tranqüilo, naqueles dias estava anoitecendo muito rápido. Passou em frente a uma padaria e resolveu fazer um agrado pessoal. Entrou para comer um pedaço de pudim, desde criança sempre adorou pudim de padaria. Fez o pedido, sentou-se, ficou esperando.<br />De repente entram na padaria três pessoas. Um homem, uma mulher e um menino de no máximo uns oito anos de idade. Aparentavam ser uma família pobre.<br />O garoto foi até o balcão e pediu alguma coisa a simpática funcionária do estabelecimento. A moça cortou um pedaço do bolo de chocolate, colocou num pratinho e levou até a mesa dos três.<br />Um pedaço de bolo para comemorar o aniversário daquela criança, compreendeu. Um pedaço de bolo que naquele instante representava a felicidade dessas três pessoas. Sentiu-se envergonhando por andar se lamentando tanto, por querer guardar angústias em potes para consumi-las sempre que julgasse necessário. <br />Seu pedido chegou. Comeu sem tirar os olhos daquelas criaturas. Parecia agora, que não só o café, mas também o pudim estava amargo. Não sentia o mesmo prazer em degustá-lo como quando na infância. <br />Os olhos ficaram úmidos, sentiu uma quase incontrolável vontade de chorar. Estava começando a entender o valor de uma fatia de bolo.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-6480352695263694462009-12-30T14:51:00.000-08:002009-12-31T06:09:57.781-08:00Diálogos metalinguísticos<a href="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/SzvdbtP2kFI/AAAAAAAAAHc/-gTBCbpPmpw/s1600-h/namo.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 302px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/SzvdbtP2kFI/AAAAAAAAAHc/-gTBCbpPmpw/s320/namo.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421170044542816338" /></a><br />Marcaram de sair. Eram nada mais nada menos que dois amigos. Melhor nem dizer assim. Estavam naquela fase de transição entre conhecidos, amigos, e uma futura relação. Fosse ela de qualquer tipo.<br />Quando ainda não se tem ou ainda não se descobriram muitas afinidades a conversa segue um ritmo um tanto quanto metalingüístico, no qual falar do que acabaram de falar torna-se momentaneamente ocupante, até que o álcool contribua para a liberação das idéias, pensamentos e desejos, digamos mais íntimos. <br />Minutos depois o álcool realmente resolveu participar da conversa, que agora era mais descontraída e os dois já falavam de si mesmos sem constrangimentos. Mostrariam fotos ridículas da infância se as tivessem ali naquele exato momento.<br />- Por que você acha que é tão difícil entrar num relacionamento?<br />- Não, eu não acho que seja difícil entrar. Nem entrar nem sair. Difícil é mantê-lo.<br />- E é difícil mantê-lo...<br />Não o deixou concluir a frase, interrompendo:<br />- É difícil mantê-lo porque nós pessoas, temos sempre a sensação de dar muito e receber pouco, temos mania de ficar esperando sempre mais do que o outro pode nos oferecer.<br />- Você espera tanto assim em uma relação?<br />- Eu minto que não fantasio, quando na verdade isso é o que mais faço.<br />- Nossa! Você não deve ser uma pessoa fácil de se envolver.<br />- Não sou e acho que ninguém é. Quem diz ser, está enfrentando alguma grave crise de carência e precisa ser amparado urgentemente. <br />- Concordo com você. O fato é que pessoas trazem uma bagagem própria. Difícil conviver com manias e problemas nossos, imagine com os dos outros. <br />- Tem toda razão. Exatamente por isso ando meio adepta da teoria do posso ter dias lindos, mesmo sozinha.<br />- Mas você sabe que tem gente que complica tudo. Quero dizer, complica mais que o necessário.<br />- Talvez não compliquem, talvez apenas não facilitem. Esse negócio de ficar se encantando dá muito trabalho, você constrói todas as suas fantasias e de repente elas são demolidas num sábado à noite em que um de vocês dois não soube dizer não na hora certa.<br />O garçom veio até a mesa e perguntou se precisavam de mais alguma coisa. Os dois estavam tão envolvidos na conversa, que só lembraram mesmo foi de pedir outra garrafa de vinho. Ela retomou o assunto:<br />- Mesmo correndo risco de ter os sentimentos despedaçados, acredito que realmente devemos nos envolver com alguém. Afinal, não podemos nos afastar de todo mundo e acabar tendo de checar o gancho do telefone para ter certeza de que a linha não foi cortada, mas sim as pessoas que te cortaram de suas vidas.<br />- Profundo isso que você disse. Poesia pura.<br />- Elogiar alterado não conta, engraçadinho.<br />- Sinceramente, acho que quem nunca amou de verdade tem uma capacidade muito maior de dar nomes aos sentimentos do que as que estão amando. Resumem tudo numa única palavra: gosto.<br />- Espero que na segunda-feira não revelemos toda essa nossa dependência.<br />Os dois riram, ficaram calados observando o movimento, quando ele retomou:<br />- Já te disseram que manda na relação quem se envolve menos?<br />- Disseram sim. Eu gostaria de me envolver menos e poder manter o controle de tudo.<br />Voltaram a rir. Ele aparentou certa dose de nervosismo.<br />- Você me deixa constrangido e quando eu fico assim sempre preciso de alguma coisa para segurar.<br />Ela sorriu dizendo:<br />- A minha mão está em cima da mesa há um bom tempo...Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-30806640080388059292009-12-30T12:05:00.000-08:002009-12-30T15:29:21.630-08:00Conto de Ano Novo<a href="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/Szu3nwFOi3I/AAAAAAAAAHU/T8jPWunhGwM/s1600-h/993508.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/Szu3nwFOi3I/AAAAAAAAAHU/T8jPWunhGwM/s320/993508.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421128470020131698" /></a><br />- Estou chegando a uma conclusão.<br />- Conclusão de quê?<br />- Não faço idéia, estou bêbado demais para concluir e ainda ter que te explicar.<br />- Pois eu acho que você anda me tratando como um cigarro.<br />- Como um cigarro? Como assim? Explique-se melhor.<br />- Procura quando precisa, acende o meu fogo, fica meio bobão, chapadão, depois me apaga no seu cinzeiro vagabundo, me esmaga e assopra as cinzas.<br />- Caramba! Eu faço tão mal assim para você?<br />- Ultimamente anda fazendo sim. Lembra daquele período das nossas vidas que nos afastamos devido aos nossos sentimentos arraigados?<br />- Claro que me lembro, foi a época que eu mais sofri, não suportava ficar longe de você. <br />- Pois então, essa época que nós ficamos afastados foi boa.<br />- Saber que eu sofria por você é bom?<br />- Não, idiota! Foi nessa época que nós descobrimos que fazíamos falta um para o outro e que nossas presenças nos confortavam.<br />- Ah sim. Eu prometi a Deus que tentaria me apaixonar de verdade, e cá estamos nós.<br />- Não sabia dessa sua promessa.<br />- Eu posso até te fazer mal, mas mesmo assim continuo romântico.<br />- Verdade. Romântico do tipo que acaba de fazer amor e nem pergunta “e ai meu bem foi bom para você?”<br />- (Risos) Perguntei uma vez e você titubeou ao responder. Nós homens não gostamos de ser comparados com outros caras que vocês mulheres porventura já utilizaram como brinquedinho sexual.<br />- Engraçado você colocar a sua classe numa prateleira de sex shop.<br />- Nesse mundo estamos todos à venda, a única diferença é que não andamos com nosso preço pregado em uma etiqueta a vista, está mais para uma etiqueta de caráter mental.<br />- (Colocando o resto de vinho na taça) Você tem razão, estamos todos à venda, uns na parte da liquidação, outros a preços exorbitantes. <br />- Me achou na liquidação ou na sessão dos exorbitantes?<br />- (Risos) Te achei num bazar, você estava mais para o tipo, compre cinco e pague três.<br />- Até hoje eu tenho uma dúvida.<br />- Qual?<br />- Se me apaixonei por você ou pelo seu sarcasmo.<br />...<br />Os dois riram, continuaram a conversar durante um curto intervalo de tempo e depois adormeceram. Quando acordaram já era Ano Novo.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-88089993684820198482009-12-30T06:12:00.000-08:002009-12-30T06:14:45.575-08:00Remetente da saudade<a href="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/SztgMDlMeUI/AAAAAAAAAGs/82UFvkrDFBQ/s1600-h/escrita.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 231px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/SztgMDlMeUI/AAAAAAAAAGs/82UFvkrDFBQ/s320/escrita.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421032336706533698" /></a><br />Puxou a cadeira, aproximou-se da mesa para começar a escrever uma nova carta. Dentro das gavetas de sua escrivaninha havia pilhas de envelopes. Escrevia sempre se perguntando:<br />- Com tantas pessoas no mundo por que justamente eu tinha que me importar?<br />Sem resposta concreta e com algumas conclusões vagas continuava escrevendo.<br />Tinha uma memória ótima, o que às vezes lhe desagradava por ser um dos poucos a se lembrar de tanta gente, tantas coisas, tantos fatos.<br />As cartas tinham como destinatários pessoas que passaram por sua vida, algumas delas conseguia enviar, outras lhe bastava guardar, tendo a consciência tranqüila por tê-las escrito.<br />Contava como andava sua vida, falava do casamento, comentava da profissão, que já não trazia a mesma satisfação de antes, elogiava o lindo casal de filhos contando suas proezas. E lembrava, lembrava dos momentos tanto bons quanto ruins que viveu ao lado do destinatário, não esquecendo nunca de também pedir notícias. <br />Algumas vezes recebia respostas, envelopes recheados de fotos, da casa nova, da família, dos bebês recém chegados para aumentar a prole. Já alguns preferiram adotar um cachorro alegando que animais davam menos despesas e complicações futuras. Respostas de conteúdo alegre, conteúdo triste, amarguradas, apaixonadas, tons de desabafo pessoal apareciam na maioria, mas em todas um sentimento em comum, a saudade.<br />Concluía então que viver era isso, um circuito de sentimentos e emoções que não segue uma lógica periódica para se repetir, apenas se repetiam, repetem, repetirão...Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6495245042953774086.post-69002395990848537832009-12-29T21:39:00.000-08:002009-12-29T21:55:35.623-08:00A verdade<a href="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/SzrqQc-WKMI/AAAAAAAAAGA/UPbBNwZeVRk/s1600-h/mulher_triste.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 307px; height: 191px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_B2Ez0M6Bau4/SzrqQc-WKMI/AAAAAAAAAGA/UPbBNwZeVRk/s320/mulher_triste.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5420902669870311618" /></a><br />Abriu a porta, afirmando que não voltaria mais. Antes de sair ainda ouviu ela falar amargurada: <br />- Você não sabe o que é amor, porque não sabe o que é compromisso. Me fez te amar, me fez largar tudo por você, e agora vai embora, isso é covardia!<br />Fechou a porta que ele deixara aberta, se jogou no sofá e sufocou um grito triste e raivoso na almofada. A vida dela girava em torno dele, tudo o que ela fazia, era para ele, e agora tudo tinha acabado. Antes a dependência era mútua e agora ele havia se libertado da corrente que os prendia.<br />O telefone tocou. Era ela ligando de um número desconhecido, para que ele atendesse.<br />- Alô?<br />- Que gosto ela tem?<br />Ele percebeu que era a voz dela. No fundo estava gostando de vê-la rastejar aos seus pés, nunca se sentira tão poderoso, e fez questão de responder dizendo:<br />- O mesmo gosto seu, só um pouco mais adocicado.<br />Do outro lado foi possível ouvir o soluço dela. Respirou fundo e perguntou:<br />- Por que o meu amor não foi suficiente?<br />Aquela conversa o deixava profundamente excitado, mesmo por telefone era incrível a submissão dela. Respondeu:<br />- Dizer mentiras e verdades é o que nos diferencia dos animais.<br />- Você não me ama mais?<br />E sentindo um intenso arrepio ele disse:<br />- Não!<br />- Desde quando?<br />- Não sei dizer ao certo.<br />Ela pensou em desligar naquele instante, mas resolveu lembrar do passado, como uma última tentativa de reconquistá-lo, dizendo:<br />- Nós dois fizemos tudo aquilo que duas pessoas fazem quando estão juntas?<br />E ele respondeu:<br />- Sim. Nós transamos.<br />Ambos se machucavam durante a conversa, porém ela estava maravilhosa. Era incrível como ela aveludava tudo o que dizia, e ele amargava ainda mais suas esperanças. Queria ver até que ponto ela se rebaixaria por ele.<br />- Só o sexo foi importante? Com ela então é só variação de cama?<br />- Eu sou homem, e é um instinto meu comportar-me como um predador. Sinceramente, te deixei porque sou egoísta, e acho que serei mais feliz com ela.<br />Tudo o que ele falava, só a fazia perceber o quanto era inútil continuar discutindo. Uma relação acabada, ele já estava com outra pessoa, e ela continuava vulnerável a alguém que não a desejava mais, que estava caçoando do antigo relacionamento, no qual ela fora enganada.<br />As lágrimas rolaram seu rosto, e ele do outro lado, se matinha altivo, sentindo a presa em suas mãos. Quando mais uma frase ecoou:<br />- Era eu quem deveria ter te abandonado.<br />- Você nunca faria isso.<br />- Tem razão, eu não seria capaz. Sou dona de um amor que só eu sinto, que só eu vejo, que só eu ouço, mas que nem eu posso tocar.<br />Essas últimas palavras pareciam ter causado certa perturbação nele. E ficaram em silêncio por algum tempo.<br />- Você é maravilhosa.<br />- Não precisa dizer que sou boa demais para você. Eu sou, mas não diga. Te diverti, você se cansou, e me traiu. Sempre podemos escolher entre resistir e nos entregar. Não sei quando foi o seu momento de escolha, mas sei que você teve um.<br />- Essa conversa não vai nos levar a nada. Vou desligar.<br />- Estou esperando você me deixar...mais uma vez.Natáliahttp://www.blogger.com/profile/06643874113885474098noreply@blogger.com1