sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Gafes


Viajou para a praia junto com outras três amigas. Passearam, beberam, fizeram novas amizades, conheceram muitos rapazes. Dentre eles guardou o nome e telefone de um em especial, pois ele morava na mesma cidade em que ela acabara de se mudar e ainda não conhecia praticamente nada. A viajem chegou ao fim, cada amiga seguiu o seu rumo.
Estava em casa num final de semana quando comentou com a irmã sobre o tal moço da praia.
- O nome dele é Lúcio. Muito educado, simpático, inteligente, não é lindo, lindo, mas todo esse conjunto de qualidades o deixa muito bonito.
- Então por quê não liga para ele como quem não quer nada? Se ele é tão gente boa assim, será uma ótima pessoa para te apresentar a cidade e te distrair um pouco.
- Você tem razão. Vou ligar agora mesmo.
Procurou o número do rapaz na agenda e ligou.
- Pronto?
- Olá! Gostaria de falar com o Lúcio.
- É ele quem está falando.
- Lúcio, desculpa! Não reconheci a sua voz. É a Fabiana, da praia, lembra?
- Nossa! Claro que lembro. Achei que nem tinha meu telefone mais. Tudo bem contigo?
- Tenho sim. Está tudo bem, ou melhor, mais ou menos. Lembra que te falei que mudei pra cá há pouco tempo e ainda não conheço nada nem ninguém?
- Lembro sim. Então vou te convidar para dar uma volta comigo, vamos sair para jantar e pelo caminho te mostro os principais pontos da cidade. Pode ser?
- Seria ótimo!
Ficou imensamente feliz por ele mesmo ter se oferecido para sair, estava com medo de que já tivesse compromisso ou não fosse tão simpático quanto havia sido quando se conheceram. Combinaram o horário, explicou o endereço para o rapaz que se dispôs a buscá-la em casa como um verdadeiro cavalheiro.
Durante o caminho para o restaurante foi mostrando praças, monumentos, shoppings, boates, bares, supermercados, condomínios, farmácias, hospitais, e tudo mais que julgava necessário uma pessoa saber onde fica para sobreviver numa cidade grande.
Chegaram a um restaurante chique que pelo o que ela pôde perceber era um dos pontos mais badalados da região. Desceram do carro e um manobrista pegou a chave para estacioná-lo. Restaurante chique, manobrista, começou a pensar “Meu Deus do céu, onde é que eu vim parar? Se aqui fora é assim imagina lá dentro!”.
Havia acabado de se mudar de uma cidade pequena, tinha um gosto um tanto quanto interiorano. Estava vestida de forma simples. Arrumadinha, porém simples. Usava uma bata, calça jeans, botas e uma bolsa de couro cheia de franjas. Quem olhava percebia logo de cara um estilo meio hippie. Já ele estava usando uma calça social, uma camisa, um blazer e sapatos também socais. Formavam um casal contrastante.
No restaurante um pianista tocava enquanto as pessoas apreciavam a comida feita pelo chefe de cozinha francês. Os freqüentadores muito bem trajados, mulheres em sua maioria com seus belos vestidos longos e homens engravatados.
Chamou atenção além do traje, o barulho que as botas fizeram no assoalho de madeira do restaurante. Um barulho abafado, do tipo toc, toc, toc, que atrapalhou por alguns segundos a doçura das notas musicais do piano.
O garçom se aproximou da mesa e perguntou:
- Posso trazer a carta de vinhos, senhor?
- Pode sim, obrigado!
Perguntou a ela:
- Prefere vinho tinto seco ou suave?
Tinto seco ou suave? Preferia que ele mesmo escolhesse para evitar gafes.
- Escolha você. Confio no seu gosto.
Escolheu um vinho tinto suave, apesar de preferir o tinto seco. Leu em uma revista que mesmo o vinho suave sendo o restolho do suco que a uva pode oferecer, era acrescido de açúcar, tornando-se palatável para a maioria das mulheres.
- E de entrada, os senhores gostariam de quê?
- Traga uma tábua de frios por enquanto.
Ficou aliviada por ele não ter pedido sua opinião para escolher a comida, aquele não era o tipo de lugar em que se grita “Garçom, meu amigão, traz um P.F ai!”.
Conversaram enquanto a entrada não chegava, ela falou de seus planos, ele falou que estava começando a cuidar dos negócios do pai, enfim falaram da vida. Foi quando ela avistou o garçom com um carrinho para servi-los. A tábua de frios, o vinho, tudo sendo empurrado naquele carrinho que só tinha visto em filmes.
Peito de chester defumado fatiado, lombinho canadense, salame, queijo prato fino, azeitonas pretas, verdes, dentre outras coisas que nenhum dos dois conseguiu identificar.
Queria comer uma azeitona, mas não sabia o que fazer com o caroço, até que ele comeu uma e discretamente tirou o caroço da boca com a mão colocando-o no guardanapo. Percebeu que não era tão complicado como havia imaginado e continuou observando-o atentamente. Acalmou-se. Pediram o prato principal, pediram a sobremesa, pediram a conta e ele pagou. Antes de ir embora foram ao banheiro.
Ela entrou no banheiro, fechou a portinha e quando foi sair não conseguia abri-la. Começou a ficar apavorada, com certeza ele já tinha saído do banheiro e estava a esperando para irem embora. Subiu no vaso sanitário, olhou de um lado, olhou do outro, nenhuma alma viva para socorrê-la. Pensou em gritar, mas logo desistiu da idéia, seria muita vergonha para Lúcio passar. Tomou coragem e se jogou estatelando-se no chão do banheiro. Levantou rapidamente, deu uma breve ajeitada no cabelo e saiu como se nada tivesse acontecido.
- Tudo bem?
- Tudo ótimo! Vamos?
- Vamos! É que você demorou pensei que talvez pudesse estar passando mal, sei lá.
- Não, não. Tive um probleminha com o trinco da porta, nada demais.
Levou-a para casa. Ela agradeceu o jantar e ele disse:
- Espero que possamos repetir a noite.
- Claro! Vamos combinar de sair mais vezes.
- Ótimo! Agora que já conhece um pouco melhor a cidade você escolherá o lugar na próxima vez.
Deu uma risada e disse:
- Combinadíssimo!
Sentiu um imenso alívio pensando “Da próxima vez vamos comer um X-burguer!”.

5 comentários:

  1. Muito divertido, Natália... Acho que todos nós já passamos por situações parecidas. Grande abraço!

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  2. Com certeza. Quem nunca deu uma bola fora que atire a primeira pedra.

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  3. Olá Natália, obrigada pela visita a minha humilde casinha. Fiquei até convencida com tanta gentileza, brincadeira. Mas vamos combinar blog é tudo de bom, na verdade meu terapeuta particular, um incentivo à escrita e ao conhecimento de novos amigos. Bom, agora já vou. Boa noite! E continue divagando entre as palavras.

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  4. Não sei o motivo, mas me identifiquei com o texto...sabe, eu geralmente dou mais bola fora do que dentro! Um caos, mas tudo bem =]
    Adorei !

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  5. Pois é Natália, a bola nem foi tão fora assim, e bom mesmo é ter história pra contar! E viva a diferença!!!

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