quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Conto de Ano Novo


- Estou chegando a uma conclusão.
- Conclusão de quê?
- Não faço idéia, estou bêbado demais para concluir e ainda ter que te explicar.
- Pois eu acho que você anda me tratando como um cigarro.
- Como um cigarro? Como assim? Explique-se melhor.
- Procura quando precisa, acende o meu fogo, fica meio bobão, chapadão, depois me apaga no seu cinzeiro vagabundo, me esmaga e assopra as cinzas.
- Caramba! Eu faço tão mal assim para você?
- Ultimamente anda fazendo sim. Lembra daquele período das nossas vidas que nos afastamos devido aos nossos sentimentos arraigados?
- Claro que me lembro, foi a época que eu mais sofri, não suportava ficar longe de você.
- Pois então, essa época que nós ficamos afastados foi boa.
- Saber que eu sofria por você é bom?
- Não, idiota! Foi nessa época que nós descobrimos que fazíamos falta um para o outro e que nossas presenças nos confortavam.
- Ah sim. Eu prometi a Deus que tentaria me apaixonar de verdade, e cá estamos nós.
- Não sabia dessa sua promessa.
- Eu posso até te fazer mal, mas mesmo assim continuo romântico.
- Verdade. Romântico do tipo que acaba de fazer amor e nem pergunta “e ai meu bem foi bom para você?”
- (Risos) Perguntei uma vez e você titubeou ao responder. Nós homens não gostamos de ser comparados com outros caras que vocês mulheres porventura já utilizaram como brinquedinho sexual.
- Engraçado você colocar a sua classe numa prateleira de sex shop.
- Nesse mundo estamos todos à venda, a única diferença é que não andamos com nosso preço pregado em uma etiqueta a vista, está mais para uma etiqueta de caráter mental.
- (Colocando o resto de vinho na taça) Você tem razão, estamos todos à venda, uns na parte da liquidação, outros a preços exorbitantes.
- Me achou na liquidação ou na sessão dos exorbitantes?
- (Risos) Te achei num bazar, você estava mais para o tipo, compre cinco e pague três.
- Até hoje eu tenho uma dúvida.
- Qual?
- Se me apaixonei por você ou pelo seu sarcasmo.
...
Os dois riram, continuaram a conversar durante um curto intervalo de tempo e depois adormeceram. Quando acordaram já era Ano Novo.

Um comentário:

  1. Olá, Natália. Gostei muito do estilo de seu texto. Na verdade, achei-o excelente! Sua narrativa possibilita uma leitura super agradável. Parabéns!

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