terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A verdade


Abriu a porta, afirmando que não voltaria mais. Antes de sair ainda ouviu ela falar amargurada:
- Você não sabe o que é amor, porque não sabe o que é compromisso. Me fez te amar, me fez largar tudo por você, e agora vai embora, isso é covardia!
Fechou a porta que ele deixara aberta, se jogou no sofá e sufocou um grito triste e raivoso na almofada. A vida dela girava em torno dele, tudo o que ela fazia, era para ele, e agora tudo tinha acabado. Antes a dependência era mútua e agora ele havia se libertado da corrente que os prendia.
O telefone tocou. Era ela ligando de um número desconhecido, para que ele atendesse.
- Alô?
- Que gosto ela tem?
Ele percebeu que era a voz dela. No fundo estava gostando de vê-la rastejar aos seus pés, nunca se sentira tão poderoso, e fez questão de responder dizendo:
- O mesmo gosto seu, só um pouco mais adocicado.
Do outro lado foi possível ouvir o soluço dela. Respirou fundo e perguntou:
- Por que o meu amor não foi suficiente?
Aquela conversa o deixava profundamente excitado, mesmo por telefone era incrível a submissão dela. Respondeu:
- Dizer mentiras e verdades é o que nos diferencia dos animais.
- Você não me ama mais?
E sentindo um intenso arrepio ele disse:
- Não!
- Desde quando?
- Não sei dizer ao certo.
Ela pensou em desligar naquele instante, mas resolveu lembrar do passado, como uma última tentativa de reconquistá-lo, dizendo:
- Nós dois fizemos tudo aquilo que duas pessoas fazem quando estão juntas?
E ele respondeu:
- Sim. Nós transamos.
Ambos se machucavam durante a conversa, porém ela estava maravilhosa. Era incrível como ela aveludava tudo o que dizia, e ele amargava ainda mais suas esperanças. Queria ver até que ponto ela se rebaixaria por ele.
- Só o sexo foi importante? Com ela então é só variação de cama?
- Eu sou homem, e é um instinto meu comportar-me como um predador. Sinceramente, te deixei porque sou egoísta, e acho que serei mais feliz com ela.
Tudo o que ele falava, só a fazia perceber o quanto era inútil continuar discutindo. Uma relação acabada, ele já estava com outra pessoa, e ela continuava vulnerável a alguém que não a desejava mais, que estava caçoando do antigo relacionamento, no qual ela fora enganada.
As lágrimas rolaram seu rosto, e ele do outro lado, se matinha altivo, sentindo a presa em suas mãos. Quando mais uma frase ecoou:
- Era eu quem deveria ter te abandonado.
- Você nunca faria isso.
- Tem razão, eu não seria capaz. Sou dona de um amor que só eu sinto, que só eu vejo, que só eu ouço, mas que nem eu posso tocar.
Essas últimas palavras pareciam ter causado certa perturbação nele. E ficaram em silêncio por algum tempo.
- Você é maravilhosa.
- Não precisa dizer que sou boa demais para você. Eu sou, mas não diga. Te diverti, você se cansou, e me traiu. Sempre podemos escolher entre resistir e nos entregar. Não sei quando foi o seu momento de escolha, mas sei que você teve um.
- Essa conversa não vai nos levar a nada. Vou desligar.
- Estou esperando você me deixar...mais uma vez.

Um comentário: