quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Remetente da saudade


Puxou a cadeira, aproximou-se da mesa para começar a escrever uma nova carta. Dentro das gavetas de sua escrivaninha havia pilhas de envelopes. Escrevia sempre se perguntando:
- Com tantas pessoas no mundo por que justamente eu tinha que me importar?
Sem resposta concreta e com algumas conclusões vagas continuava escrevendo.
Tinha uma memória ótima, o que às vezes lhe desagradava por ser um dos poucos a se lembrar de tanta gente, tantas coisas, tantos fatos.
As cartas tinham como destinatários pessoas que passaram por sua vida, algumas delas conseguia enviar, outras lhe bastava guardar, tendo a consciência tranqüila por tê-las escrito.
Contava como andava sua vida, falava do casamento, comentava da profissão, que já não trazia a mesma satisfação de antes, elogiava o lindo casal de filhos contando suas proezas. E lembrava, lembrava dos momentos tanto bons quanto ruins que viveu ao lado do destinatário, não esquecendo nunca de também pedir notícias.
Algumas vezes recebia respostas, envelopes recheados de fotos, da casa nova, da família, dos bebês recém chegados para aumentar a prole. Já alguns preferiram adotar um cachorro alegando que animais davam menos despesas e complicações futuras. Respostas de conteúdo alegre, conteúdo triste, amarguradas, apaixonadas, tons de desabafo pessoal apareciam na maioria, mas em todas um sentimento em comum, a saudade.
Concluía então que viver era isso, um circuito de sentimentos e emoções que não segue uma lógica periódica para se repetir, apenas se repetiam, repetem, repetirão...

2 comentários:

  1. É realmente fascinante a sua capacidade de usar palavras. São textos assim que inspiram grandes artistas. Parabéns !

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  2. Poxa, Natália! Que talento escondido é esse? Escondido nada, neh? Tá ae pro povo ler :P
    Parabéns!

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